Das imagens e textos que, abruptamente nascem,habitam nosso dentro e,tão inesperadamente como surgem,rasgam a carne e realizam o desejo de ser obra colocada no mundo para, agora, atormentar/fazer contato com outros...
26/10/2008
03/10/2008
Partida
A fina ponta dos dedos dela faziam uma pressão monstruosa nas costas daquele homem.Ela sabia que, dentro de poucas horas, partiria. O adeus era inevitável, como também, era inevitável a sua paixão por aquele ser... Talvez, por isso,sua frágil mão havia encontrado tanta força naquele momento: porque sustentava a ilusão de que, prendendo fortemente aquele dorso, traria, pra dentro de si, a infinita posse do que não possuiria mais.
01/10/2008
Liquor

Espectral
Recuso ser matéria.
Uso rachaduras como vias.
Invado espaços: entro por frestas.
Me desejo invisível.
Sou toca de texugo.
Espírito
Recuso ser corpo.
Tropeço esquinas.
Encaixo em dobras, desníveis.
Circulo em curvas de sombras.
Me desejo oculta.
Sou labirinto de castelo.
Rarefeita
Recuso ser existência.
Marco passos no escuro.
Só saio noturna: soturna.
Me desejo breu.
Sou baú do porão.
Microfísica
Recuso ser imagem.
Rastejo por ralos, canos, conduítes.
Habito ecos-ocos espaços.
Me desejo micro-micróbio.
Sou naftalina no guarda-roupa.
Dissolvida
Recuso ser estrutura.
Sub-vivo no detrás, no dentro, no profundo.
Estou no contra-reflexo.
Me desejo vulto.
Sou segundo do susto.
Estátua
Recuso ser ação.
Imóvel em imóvel abandonado.
Cheiro poeira.
Sempre em (en) canto desabitado.
Me desejo sombra e perfil.
Sou bicho traça preso ao teto.
Aquosa
Recuso ser telúrica.
Me visto caramujo.
Pesa meu dorso-abrigo.
Me desejo concha.
Sou minúsculo molusco.
Planctônica
Recuso ser espécie.
Partícula refletora.
Fragmento na imensidão do sagrado salgado.
Me desejo plâncton.
Sou maré-movimento.
Flutuo-inércia.
Levo-me.
Lavo-me.
Engole-me uma gigantesca Jamanta.
No corpo do imenso...
Eu findo infinita.
Recuso ser matéria.
Uso rachaduras como vias.
Invado espaços: entro por frestas.
Me desejo invisível.
Sou toca de texugo.
Espírito
Recuso ser corpo.
Tropeço esquinas.
Encaixo em dobras, desníveis.
Circulo em curvas de sombras.
Me desejo oculta.
Sou labirinto de castelo.
Rarefeita
Recuso ser existência.
Marco passos no escuro.
Só saio noturna: soturna.
Me desejo breu.
Sou baú do porão.
Microfísica
Recuso ser imagem.
Rastejo por ralos, canos, conduítes.
Habito ecos-ocos espaços.
Me desejo micro-micróbio.
Sou naftalina no guarda-roupa.
Dissolvida
Recuso ser estrutura.
Sub-vivo no detrás, no dentro, no profundo.
Estou no contra-reflexo.
Me desejo vulto.
Sou segundo do susto.
Estátua
Recuso ser ação.
Imóvel em imóvel abandonado.
Cheiro poeira.
Sempre em (en) canto desabitado.
Me desejo sombra e perfil.
Sou bicho traça preso ao teto.
Aquosa
Recuso ser telúrica.
Me visto caramujo.
Pesa meu dorso-abrigo.
Me desejo concha.
Sou minúsculo molusco.
Planctônica
Recuso ser espécie.
Partícula refletora.
Fragmento na imensidão do sagrado salgado.
Me desejo plâncton.
Sou maré-movimento.
Flutuo-inércia.
Levo-me.
Lavo-me.
Engole-me uma gigantesca Jamanta.
No corpo do imenso...
Eu findo infinita.
30/09/2008
Greve

Greve
Greve de fome,
greve de ausência,
greve de amor...
Greve por resistência.
Estamos todos em greve,
quebrando a rotina...
A rotina está em greve.
Greve dos ratos.
Greve dosbobos...
Greve contra os bobos,
contra os roubos,
contra os danos,
contra os enganos,
contra as mesquinharias...
Contra as Patricinhas.
Greve contra a prisão do amor,
contra o sexo banal do amor livre...
contra tudo e contra todos.
Greve Geral:
contra mim,
contra você.
texto escrito em 1997
08/09/2008
O Dois
A casa de meu pai é modesta.
Casa como nós: classe média.
No fundo, a pequena cerca- limite do território próprio-
revela uma imensa fazenda de cheiro verde.
Girassóis iludem a visão da gente.
Bem na direção do quintal da casa de meu pai,
um angino velho e imenso
curva-se, cansado.
Naquela imensidão de terra-fazenda
de cheiro verde- menta,
embaixo do gigante-angino,
uma menina foi estuprada.
escrito em 03/08
Casa como nós: classe média.
No fundo, a pequena cerca- limite do território próprio-
revela uma imensa fazenda de cheiro verde.
Girassóis iludem a visão da gente.
Bem na direção do quintal da casa de meu pai,
um angino velho e imenso
curva-se, cansado.
Naquela imensidão de terra-fazenda
de cheiro verde- menta,
embaixo do gigante-angino,
uma menina foi estuprada.
escrito em 03/08
Mulher Esqueleto
Amnésica e tonta recrio lembranças (propositalmente).
Aprecio e deprecio a defesa lúdica (banal/estúpida) que, à mim, imputo.
Finjo quitar fiança de meu cárcere inafiançável.
Desloquei (psicanaliticamente por impregnação teórica) a experiência sentida, do acontecimento;
e, racional, vejo minha outrora vida, agora, por outra vivida.
Minha história vivida por outra, pela outra que eu era.
Diluída, não constituinte de nada, sigo em ocaidentidade.
Meu não-eu observa, como lua nova,
a minha menina pulando ondas de mar.
Brinco de me ser antes de ser o que, me fez desejar, não ser mais.
Ameaçada e acuada, de mim, abri mão.
Não foi possível partir-me em memória seletiva
(consciente demais para ludibriar-me em fragmentos do que foi bom e do que foi ruim).
E, para não ser o que minha memória recente não cessa de lembrar-me,
tive que não ser tudo que fui.
Morri... Viva, capengo morta.
Morta, insiste a bomba orgânica a fazer-me viva.
Não repararam que morri.
Mantenho felizes os que me amavam.
Preferem-me zumbi do que pó.
Em frente ao espectro no espelho:
blush para disfarçar a cor de cera da defunta.
Perfume para evitar a dissipação do fedor fúnebre.
Vestes adequadas à emprestar gordura e carne
ao meu -só ossos- esqueleto móvel.
E assim, oca de mim, aprendi a mentir-me, a inventar conteúdo vão.
Para não ser insuportável aos outros, frankstei-me, reacriturei-me.
Do úmido de meu cárcere-segredo- contemplo o alívio de minha mãe,
o sorriso de meu pai, a naturalidade de meus irmãos.
Não fui sagaz para prever a solidão de meu disfarce.
Esqueleta, viva-morta-viva, vivo só
Aprecio e deprecio a defesa lúdica (banal/estúpida) que, à mim, imputo.
Finjo quitar fiança de meu cárcere inafiançável.
Desloquei (psicanaliticamente por impregnação teórica) a experiência sentida, do acontecimento;
e, racional, vejo minha outrora vida, agora, por outra vivida.
Minha história vivida por outra, pela outra que eu era.
Diluída, não constituinte de nada, sigo em ocaidentidade.
Meu não-eu observa, como lua nova,
a minha menina pulando ondas de mar.
Brinco de me ser antes de ser o que, me fez desejar, não ser mais.
Ameaçada e acuada, de mim, abri mão.
Não foi possível partir-me em memória seletiva
(consciente demais para ludibriar-me em fragmentos do que foi bom e do que foi ruim).
E, para não ser o que minha memória recente não cessa de lembrar-me,
tive que não ser tudo que fui.
Morri... Viva, capengo morta.
Morta, insiste a bomba orgânica a fazer-me viva.
Não repararam que morri.
Mantenho felizes os que me amavam.
Preferem-me zumbi do que pó.
Em frente ao espectro no espelho:
blush para disfarçar a cor de cera da defunta.
Perfume para evitar a dissipação do fedor fúnebre.
Vestes adequadas à emprestar gordura e carne
ao meu -só ossos- esqueleto móvel.
E assim, oca de mim, aprendi a mentir-me, a inventar conteúdo vão.
Para não ser insuportável aos outros, frankstei-me, reacriturei-me.
Do úmido de meu cárcere-segredo- contemplo o alívio de minha mãe,
o sorriso de meu pai, a naturalidade de meus irmãos.
Não fui sagaz para prever a solidão de meu disfarce.
Esqueleta, viva-morta-viva, vivo só
07/09/2008
Asas
Hoje é ainda mais cedo que ontem
e já estou me desfazendo.
Quero me por em casulo
e só lembrar de mim
quando tiver asas.
Meus discursos
díspares
me envenenam.
Construo esse labirinto,
perder-me,
minha ameaça,
meu álibi.
O oco de mim
ecoa em silêncio,
não me abala.
Devo sair,
enfrentar o dia,
o faço mecanicamente.
Sou máquina
de andar,
de falar,
de sorrir.
Sou de mecanismos,
de engrenagens.
Produzo comportamentos aceitáveis.
Sou, na verdade,
invisível para todos.
Sempre fui, mas agora dói mais.
06/09/2008
(Des) Culpa
05/09/2008
Poesia da Raiva
Não me venha com seus farrapos, trapos, seus espasmos.
Não me torture com suas juras, curas, suas fissuras.
Não me apresente essa sua estética, ética, essas suas coisas patéticas.
Estou cansada de seus barracos, suas torturas, suas práticas.
Sou raptada pela lembrança da sua presença e por tua descarada ausência.
A imposta dor de todos os dias me dá fadiga.
Aguardo sentada, inadequada, mal amada,
aguardo o segundo, o minuto, a hora,
de mudar o prumo, o rumo.
Aguardo com raiva dessa demora.
Não me diga palavrinhas bonitas,
nem me console como se eu estivesse aflita.
Dentro de mim um universo se agita,
e quando explodir, talvez eu, nem mais exista.
Portanto, se afasta,
se protege, distancia-se.
Resta de longe pra que nemhum fragmento te atinja.
Faz como sempre fez,
finge que não é contigo,
que você é só mais um amigo.
Para de fingir que padece,
dessa tormenta que você, na verdade, desconhece.
Vê se cresce ou ao menos desaparece!
" Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor".(Noel)
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